30 de dez. de 2011

Fugitivo




Duas horas de uma madrugada qualquer. Nos fones de ouvido, Phil Anselmo berrava. O quarto, totalmente escuro, era preenchido por um vazio desesperador. As lembranças vinham, uma a uma, feito flechas, prontas pra ferir, mas ele se esquivava. ‘Fugia’ é a palavra mais certa. O medo daquelas flechas era tão grande que ele podia correr mais rápido do que elas voavam. Se escondia atrás de doses de conhaque, embaixo das últimas noites, que nem pareceram tão ruins. O peito batia rápido, as flechas passavam muito perto, os esconderijos o deixavam muito exposto, as pernas davam sinal de cansaço.
Se levanta, um remedinho vai lhe acalmar, mas, cuidado, garoto! Não distraia-se tão fácil... DOR.
Uma flecha bem no meio do peito. Fatal.

6 de dez. de 2011

capitão


o capitão nem imaginava chegar tão longe.
ele, navegante de tantos horizontes,
conquistando o que nunca imaginara.


o que dizer pra sua tripulação?
o que faria o capitão
com esse inesperado na cara.


pôde cruzar tantos mares
presenciar milagres
sem alterar o semblante


frio, calculoso e aguerrido
venceu qualquer perigo
e agora não podia seguir adiante


o capitão e o coração na mão
os olhos fixos e a reação no chão
como um joão qualquer


à frente, não mais ordens e leme
capitão venceu tudo que um homem teme
mas se rendeu ao amor de uma mulher.

29 de nov. de 2011

pleno


Asas para um voo pleno
Algo que atravesse os planos
De onde se aguarda menos
Vêm os melhores enganos

Que supere as expectativas
Previsibilidade se quebra
As melhores surpresas da vida
Da pessoa que menos se espera

22 de nov. de 2011

Corpo e alma



Foda é você perceber que foi tão profundo
Com gente tão rasa
Gente que não poderia – nem se quisesse –
Compartilhar da intensidade
Sinceridade honestidade

Foda é ter que abaixar a cabeça
Conhecer a escuridão
Pra saber dar valor à luz

21 de nov. de 2011

uma só

só uma que não me tirasse a cor,
uma só que não trouxesse só lágrimas
e dor.

uma só que fosse só sorriso
ou abraço,
carinho.

uma só que não fosse só minha,
mas que fosse sempre
bem vinda.

só uma, coração.
verdade,
solução.

Pela Calma


Eu falo em defesa da nostalgia.
Em defesa dos cobertores quentes, das velhas manias que acalmam.
Pela não criminalização dos portos seguros, dos pontos de equilíbrio.

Nada em defesa do remoer das mágoas e decepções já idas,
Mas do não esquecê-las.
Do olhar pro passado pra caminhar pro futuro.

4 de nov. de 2011

singular


        quer                dói
pensou           muito              é
fazer               mesmo           não
tudo                fazer              ter
diferente        isso                 medo



e                      não                 me
no                   importa          parecer
fundo             se                    com
uma                faz                   quem
corrente         frio                  odeio

30 de out. de 2011

Veneno


Como se você
Tivesse o poder
De roubar meu ar

Sua simples presença
Faz minha cabeça
Sair do lugar

Seu doce veneno
Consome-me por dentro
Sinto-me ruir

Caindo de tão frágil
Eu, alvo fácil
Indo ágil pro fim

26 de out. de 2011

Quem Sabe


Você desce as escadas
E as portas já não estão fechadas
Seus passos te levam pra rua
Pro mesmo caminho
De manhã cedinho
Ou final de tarde
Você vai encontrá-lo
E não fará alarde
Quiçá cumprimentá-lo
Já fazia tempo, não?
Ele sempre vem junto dessa sensação

Os sonhos ridículos da sua época dele
Hoje já não parecem não valer nada
Ele costumava ser um canalha
Mas, o melhor que você já teve

a milésima lamentação nostálgica


Parece que às vezes o peito seca.
A cada batida, o coração parece se debater lá dentro,
brigando com os outros órgãos, machucando.
Parece não haver sangue,
nem nada que acalme essa sensação,
nada pra diminuir o atrito de cada batida.

Um coração masoquista era só o que faltava.

Duas opções pra você, coração:
ou você se acalma, ou eu te paro de uma vez por todas.

vidro embaçado

ainda te esqueço
mesmo carregando
no peito
e no vidro do meu carro
seu nome gravado

ainda paro de lembrar
daquelas madrugadas
das boas risadas
até o fim raiar

ainda chego lá
e te olho com desprezo
e te mando um torpedo
capaz de te afundar

mas te trago de volta
fica tranquila
vontade de vida
ainda me sobra

a decisão certa


virei as costas
fui embora
não senti suas mãos
nem sua voz
me pedindo pra ficar
nenhuma ligação
sua, dizendo só
pra eu voltar
nada
nem um pedidozinho
nada
caminhar sozinho
que nada

doeu, mas curou
se não me procurou
não sentiu minha falta
se não te dói a alma
eu tava mais que certo
quando saí de perto

eu, trinta latas de cerveja e a ausência

foi-se o doce
como se nunca tivesse chegado
como quem nada tem ao lado

foi-se doce
sem espírito pesado
só rindo-se, pecado

foi-se

restam-me as coisas
fios de cabelo no paletó
as camisas sujas de suor

restam-me coisas
o que tenho ou penso ter
tenho coisas. não tenho você

resta me

25 de out. de 2011

musa

pra você faço samba
a música e a letra
em plena terça-feira
você me encanta

não me estranha
te pago uma cerveja
e te pego na mesa
comigo você dança

me dança, me transa
me traga, me beija
te quero inteira
morena, me ama

21 de out. de 2011

Não serve


Aquele consolo de “ah! Não fica assim, isso passa” não serve. Saber que tudo vai passar é que realmente dói. A vontade é de manter todas as feridas abertas, à vista, bem visíveis, pra poder sempre jogar na cara de quem as fez. Sempre despertar automaticamente o remorso, o peso na consciência. Ouvir um “poxa, desculpa” a cada encontro, e sair mais leve. Elevado.
Mas, isso passa.

17 de out. de 2011

fevereiridades

é pau
é perna
é (quase) tudo carinho

é língua, saliva
lábios se abrindo

é alma entregue
é boca em suspiro

é putaria sútil
ao pé do ouvido

é peito, é suor
é pele, é espírito

são detalhes pequenos,
e como são

detalhes que formam
todo esse tesão

12 de out. de 2011

aspas



Deságua


Nos primeiros raios da manhã
Eu caminho beira-rio
Na esperança que o espelho d'água
Traga ocê de volta
Por aqui tudo sente sua falta

Dia desses eu te vi na curva do rio
Te ouvi na sinfonia
Que escancara as portas do dia
Brincou no céu, voou
No bater de asas fogo-pagô

É um bater de asas essa vida
É um sopro
É caminho de ida
Um rio que segue sempre adiante
Eu sigo seu cheiro pelos campos
Feito gado seguindo o berrante

Não tem jeito
De tudo eu tenho feito
A saudade é um arco-íris
Que brota nos seus olhos
E deságua no meu peito

Zé Geraldo (vale a pena ouvir)

2 de out. de 2011

mal e cura

uma quantidade significativa de cigarros
nessa hora que quase pára
nesse ciclo de pensamentos que me consome

é assim mesmo
uma porrada de poesias depois
a gente (acha que) aprende

esse vírus-bactéria-problemagenético
que destrói meu estômago ânimo
vistas humor sono
vem de longe bem longe

o que tá mais que na cara
é que eu preciso me curar de você

28 de set. de 2011

(im)paciência

sete horas.
os carros passam lá fora.
sirenes, buzinas.
o vento teima em bater na janela.
você teima em permanecer na minha cabeça.
sete horas.
o celular não toca.
meu coração não decide em que ritmo pulsa.
fraco, forte, fraco, fortíssimo.
o chão frio me convida.
aquele disco acústico do Lobão também.
sete horas.
os pensamentos ruins voltam.
a geladeira vazia.
meu cérebro em overdrive.
tontura, euforia, melancolia,
lá, mi, ré, lá, sol,
alguém deveria acender a luz desse quarto.
alguém poderia entrar nesse quarto.
eu tenho que parar com isso.
mas pensando bem.
sete e um.

26 de set. de 2011

odiável sinceridade

você sabe, eu minto muito mal
meus poemas sinceros são bem sem sal
e o meu lado romântico é vaidoso demais

bem, você deve saber também
que contigo é difícil ter paz
mas, longe de ti é ainda mais

difícil, difícil

feito fingir que não sinto sua falta
e manter essa pose calma
sem transparecer o desespero que ferve em cada poro do meu corpo, gritando, esperneando, reclamando cada segundo da tua ausência.

eu falo tanto..."eu sou inabalável"
só não digo adeus
mas isso soa até engraçado
bem, eu sei que você sabe que os meus versos sempre serão seus.

25 de set. de 2011

bossa

nunca mais dormi
quiçá sonhar
nunca mais tive calma
nem lugar
nem se
nem será
nem eu
sem ar

23 de set. de 2011

Solução


            Era uma tarde bem quente, tomando uma cerveja com os amigos, quando Antonio Carlos foi acometido de uma imensa vontade súbita de encontrar um amor. Papel e caneta na mão, anotava seus requisitos. Um amor bonito, duradouro, intenso, compreensivo, sincero, companheiro, agradável, quente e uma porção de outras expectativas que se coloca acerca de um amor.
            Foi Antonio à loja de amores. Procurou, procurou, mas não achou nada na primeira, nem na segunda e nem na terceira loja. Aí veio aquela idéia, como num estalo.
            Carlos olhou sua lista, com tantas exigências, pegou seu amor próprio e tornou-o tudo aquilo listado. Abriu sua própria loja de amores, expôs seu próprio amor. O resultado foi o sucesso. Total. Teve até reportagem pro Pequenas Empresas Grandes Negócios. Fala-se que Antonio Carlos já tem ofertas para exportação de seu amor.

20 de set. de 2011

bom, ruim

Num gesto de pura ousadia, essa poesia já vem acompanhada de sua versão musical, disponível aqui: http://soundcloud.com/leoooni/bom-ruim-um-n-o-assim-ou-so


bom, ruim, um não assim (ou So, you know, isn't nothing)

é que não há boca que se encaixe
tão bem na minha boca
nem suspiro que soe tão bem
quanto o dela soa

nem braços tão finos
nem pés, nem umbigo,
pernas, mamilos
tão convidativos

tão sempre
tão nunca
só mais uma
mais duas
me iluda, nua
que és só minha
que és, e és
cínica
mas minha, mais
única

bom, ruim,
um não assim
além, a mim,
o fim, enfim

17 de set. de 2011

Queijo e goiabada


Dizer que os opostos se atraem é uma redundância. Só os pólos contrários de um imã se encostam, a mão esquerda só se encaixa com a direita, as peças de um quebra-cabeça e os seres humanos também. Tomando como grande exemplo as mãos, se vê já muita coisa: Cinco dedos, unhas, pele, aparentemente iguais, mas totalmente opostas.
Busca a alma algo de sua imagem e semelhança, ou algo que a complete? Ou não seriam as duas coisas?

12 de set. de 2011

cabe aqui

pode entrar
sinta-se em casa
faz de mim sua morada
me abusa feito uma criada

cata meus cacos
cola os meus pedaços
abranda alguns estragos
relevamos nossos pecados

e aqueçamo-nos até a chama ter fim
SIM

10 de set. de 2011

palpitação

vem cá e substitui a falta que me faz alguém
um alguém qualquer
até você pode ser
se quiser

corra logo, chegue rapidinho
acaba com a palpitação
de um coração
balão

tem exigência não
é só chegar
mostrar
é só

suor

7 de set. de 2011

me belisca

aqui estamos, pequena,
mergulhados nessa cena
e em nós mesmos e
nas suas pernas
entrelaçadas às minhas e
nessa poesia e
no seu corpo quente e
no seu riso fácil e
envolvente
que me deixou admirado
e, deveras, dependente.

5 de set. de 2011

ebulição


sobre nossas costas o mesmo sol
no nosso sangue a mesma força
mesma vontade de sumir daqui
entrecortando a obrigação
curva que nos mantém imóveis.

28 de ago. de 2011

o receio

ciúme é doença
consome e não acaba
ciúme só se sente
pelo que se ama
ciúme me cega
me inflama
me mata

24 de ago. de 2011

egoísta

é que pra ser bom pra você
eu preciso ser bom pra mim
pensa assim

pra me entregar inteiro
eu preciso estar inteiro

é egoísmo sim, mas
é me importando com o coletivo
que eu to pensando mais no meu

21 de ago. de 2011

velocidade

o passar do tempo
me causa vertigem

às vezes tão lento
que pega fuligem

outras tão veloz
que me leva à lona

de forma atroz
ensina e assombra

16 de ago. de 2011

risco

fragilidade
à partir da idade
que se corre risco

arrisca-se físico-
emocionalmente
perpetuamente

enquanto esse peito pulsar
detalhes a lidar
água que corre pro mar

não se foge disso
ambienta-te com o risco
e acostuma-te a acompanha-lo.

13 de ago. de 2011

da vizinhança

Posto hoje um poema de um grande amigo, Rafael "Volta Seca" Almeida.
Foi uma boa surpresa quando o mesmo me mostrou a poesia, gostei bastante e tenho a honra de compartilha-la com vocês aqui:


Recordação do Orvalho



De forma absoluta, estonteia e embrilhece
De maneira soluta, brilha e esquece
Com um jeito lunar, se esconde e aparece
Esbanjando paixão que logo se enlouquece

Louca como sempre decidiu
Expor sua alma no ar
Como quem pouco se importa
No que há no amar no peito no corpo no falar

Piso de razão e sofrimento, clamor e orgulho
De quem jamais pode imaginar ao longo do período a loucura de quem era seu querido
Agonizando em esperança a amança de sua andança que se produziu sua cantança

Assim vou vivendo na minha solidão
Que em muito lembra o sertão
Que temes pela chuva querida que tanto lhe serve
Pelo motivo de sua abundância que vem e lhe enobrece

7 de ago. de 2011

os últimos versos


já jurei,
esses vão ser
os últimos versos
que eu dedico a você.

me deixa lembrar,
pela última vez,
vós, nós, à sós.
o que desfez.

senta comigo,
abra um sorriso,
escuta aquela
que era a nossa canção.
não pense que
foi tudo em vão.

e então,
o que restou?
da nossa casa,
do nosso suor?

de que valeu sinceridade?
não vá embora,
diz agora,
umas meias verdades.

não! se quiser, esqueça.
não tenho cabeça
pra entender
você,
pra que?
vai saber.
pensamentos são únicos.
aproveite os versos,
esses são os últimos.

3 de ago. de 2011

musicando

Alguns que acompanham o blog há mais tempo chegaram a conhecer alguns poemas musicados, frutos de uma parceria minha com Davi Peyroton, um grande amigo.

Pois bem, voltamos com essa parceria.
Já disponibilizamos uma nova canção:

Pra quem quer conhecer algumas das mais antigas, deixo aqui mais duas:


30 de jul. de 2011

Contos de um taxista amador


Enfim, férias. O que pra muitos é sinônimo de descanso, não se aplica a mim. Minha mãe é vendedora e, mesmo tendo carteira, não dirige. Então, aproveitando-se do meu tempo livre, me usa como taxista-escravo-exclusivo e me faz levá-la, com suas mercadorias, pra fazer suas vendas.
Numa das minhas primeiras missões, levei-a a um bairro próximo. Desceu, pegou as coisas dela e disse que “voltava já”. Eu sabia que não era tão “já” assim, e me precavi levando um disco duplo d’Os Mutantes. Inclinei um pouco a poltrona e pus-me a observar a rua.
Lá pro fim do primeiro disco, quase uma hora depois de chegar, uns molecotes armaram umas “traves” na rua, eram dois pares de chinelos, com distância de cerca de três passos um do outro, bem em frente ao carro. Um maracanã sobre o asfalto. Começava uma partida de furingo, um bate bola interrompido o tempo inteiro pelos carros que por ali passavam. A garotada era dessa típica garotada de conto infantil, que não sabe andar, só sabe correr, de short e – olhe lá – camiseta. Aquela partida de futebol sobre o duro chão negro passava despercebida pelos olhos de quem estava fora do jogo, mas deveria florir a imaginação daqueles guris. Cada jogada devia gerar comparações descabidas e desproporcionais com quaisquer ídolos de qualquer um que ali jogava. Cada gol deve ter rendido um sonho à noite, de estádios cheios gritando seu nome. Quando, na verdade, ele só passou a bola entre os dois chinelos no meio da rua. Crianças, crianças, vocês não sabem a inveja que me causam.
O jogo estava corrido. O time que defendia a trave-chinelo-azul saiu ganhando, fez dois gols. Logo depois o time que defendia a trave-chinelo-verde reagiu, fez um gol, depois outro, e vinha pra cima pra conseguir a virada, quando o jogo teve que parar. Minha mãe chegou e eu tive que sair com o carro. Já estava na terceira música do segundo disco. Mamãe pediu pressa, ainda tinha que passar na padaria. E o jogo, ah, o jogo eu não soube de quanto terminou.

27 de jul. de 2011

de pé

há uma busca,
eterna procura
por algo pra se fazer.

o tédio é um aliado,
instiga a não ficar parado,
o corpo tem que se mexer.

tens respiração,
transpiração,
não em vão.
corra atrás
de caos ou paz.
pulse coração!

24 de jul. de 2011

torto

sou só estranho
não tenho rebanho
rebanho sou

rebanho somos
regando sonhos
sonhos em flor

22 de jul. de 2011

promessa

"só posso te prometer duas coisas.
primeiro: pior que isso eu não vou ficar.
segundo: nunca vou desistir de você. nunca
"

18 de jul. de 2011

15 de jul. de 2011

mutante



ter-se-á
que mudar.
e mudança
nunca é muda,
nem cega,
ou surda.


mutabilidade
é habilidade
de pensar sem
ficar parado


sou mutante,
amante,
avante,
alado.

13 de jul. de 2011

campo fértil

aquelas flores que te mandei
brotaram do meu peito
que virou campo fértil
adubado pelo seu suor

suor seu que misturou-se ao meu
feito as suas pernas
que eu já não consigo ver
sem imaginar coladas às minhas

minha pequena fortaleza
rubra chama de inspiração
caminhar até aqui rendeu-me calos
mas você faz cada um deles valer a pena

10 de jul. de 2011

metalinguagem

não me acho um escritor bom ou ruim.
me acho escritor, já que escrever me vem,
às vezes, como real necessidade.
como um ator, interpretando sentimentos,
como um deus, criando sentimentos,
como espectador, desejando sentimentos.
eu vivo a poesia,
a poesia vive em mim.

4 de jul. de 2011

I like you, Charlie Brown.

Meu bem... de antemão eu já vou avisando que isso não vai ficar tão extraordinário quanto eu gostaria. O poeta da relação é você, afinal. O mínimo que eu posso fazer é tentar não tropeçar nos verbos e fazer com que meus vocábulos não saiam pela culatra, uma vez que essa é a característica mais marcante de meu discurso. Então, a princípio é interessante observar como a vida age... duas pessoas tão paradoxais, como eu e você, loucas, doentes, depressivas, autodestrutivas, hipersensíveis, etc, etc, etc (eu poderia gastar linhas descrevendo nossas imperfeições psicóticas, haha), duas pessoas tão complexas encontrarem a paz no colo uma da outra. Isso é bonito de se ver. E eu esperei muito tempo para ter a chance de ter calma e segurança em alguém. Meu raciocínio "8 ou 80" me deu uma trégua nos últimos dias, aqueles os quais passei contigo, e pude perceber que nem tudo na vida precisa ser imediato e mal feito, porque com você eu não sinto pressa, necessidade de passar por cima dos detalhes. Eu gosto dos detalhes, os detalhes estão compondo cada milímetro dos sorrisos que eu dei desde Janeiro. Eu estou passando por um período de transição, e o meu julgamento do amanhã está ofuscado pelas minhas expectativas, mas eu sou obrigada a confessar que algumas controvérsias não serão suficientes para que eu queira te afastar de mim. Não sei se tenho o direito de invadir o seu espaço como estou fazendo ao dizer isso, mas a verdade é que eu te quero muito bem. E eu cansei de ficar no escuro, quero que todos saibam: eu gosto muito, muito, muito mesmo de você.
Assinado, "Garotinha Ruiva".

1 de jul. de 2011

essa é tua

não se mexa,
fique aí parada,
com a cabeça
sobre as almofadas.

sorrindo pra mim,
um sorriso inocente,
provocante,
quase indecente.

cabelos soltos,
inteiramente nua,
agradeço assim,
essa poesia é tua.

das tuas coxas,
da tua boca,
de você como um todo,
além do seu corpo,

da sua alma,
simétrica à minha.
não se mova!
quietinha!

admirar-te-ei
pelo resto da vida,
a todo momento,
todo e este, querida,

enquanto eu puder
manter-me em pé,
gêmea alma minha,

admirar-te-ei.
nunca serei rei,
mas serás sempre rainha.

28 de jun. de 2011

tanto passou

olha-me e diz
que isso é verdade
que é realidade
e não sonho
deixa-me tonto
embriagado de sentir
você de novo aqui

não era sem tempo
já me sentia
como Clapton dizendo
"i can feel your body"
velho amor,
tanto passou
mas ainda sei dizer,
quero tanto você.

24 de jun. de 2011

um mal lugar pra se estar

se o inferno é quente,
irritante e enlouquecedor,
estar no inferno
é estar contigo, amor.

o preço é caro
mas, gostoso de pagar,
o inferno não é
um mal lugar pra se estar.

(inspirado em "hell ain't a bad place to be" do AC/DC)

21 de jun. de 2011

emudeça-te

não, não diz pra ela não
poupe-a dessa confusão
diz que eu fugi,
que fui embora
diz que eu parti
e já era hora,
já era tarde
pra qualquer parte
de um caso acabado.
esquece que eu fui
com o peito apertado.

18 de jun. de 2011

acredita?

tanto clichê pra dizer o que você já deve saber
se não sabe, eu digo, meu bem
essa distância me deixa sem
cor, sem luz, sem vida.
acredita?
eu preciso de você sempre perto
preciso de você, é certo
preciso muito
meu dengo ruivo
saudade em pouco tempo
me ensinou, doendo
que esse lugar bem aqui,
nesse vazio
coração vadio
só esperava, reservado pra ti.

14 de jun. de 2011

passeio espacial


Regulus, Aldebarã,
qualquer galáxia anã,
escuridão desconhecida,
estrelas de luz esvaecida,
astros e constelações
brilhando aos milhões,
tudo tão distante de nós.
será mesmo que estamos a sós?
será que já recebemos visitas?
pois se sondas são lançadas
não poderiam ser recebidas?

será que nessa imensidão,
nessa infinita escuridão,
alguém que pense com clareza?
se houver, por favor, com delicadeza,
desça aqui pra me ajudar,
abduza-me,
carregue-me
e só deixe-me,
num distante lugar,

sem dores,
horrores,
senhores
com fome de poder.

saia de trás da lua,
desça aqui pra rua,
vem bater um papo, seu ET.

12 de jun. de 2011

pra mim

estou seriamente tentado
a me manter despreocupado
deixar essa maré de lado
e ir de encontro à paz
sei que sou capaz
só não sei como fazer
pra largar tudo e esquecer
do que atinge a todos
me sinto um tolo
mas é assim mesmo
vou rastelar o terreiro
e comprar uns espelhos
pra olhar mais pra mim
"my dreams they aren't as empty,
as my conscience seems to be."

7 de jun. de 2011

pelas linhas

minha lapiseira é minha espada,
meu instrumento de batalha,
minha alma,
meu sangue,
meu peito,
só passeio com liberdade
pelas linhas do que escrevo.


"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."

5 de jun. de 2011

caminho

caminho só,
só eu e o caminho.
não tenha dó,
o céu azul não me deixa sozinho.
me faz companhia muda,
até cega, mas não surda.
é companhia só de ouvido.
de ouvidos, atentos
e muito bem vividos.

31 de mai. de 2011

força e jeito

lhe desenho um só eu
dentro de você
o meu no teu prazer

de olhos fechados
minha mão no teu
dorso nu e suado

sacio a tua fome
de um homem
que te pega e te come

com força e com jeito
esqueço os teus defeitos
e te rasgo no meio

te largo na cama
com um sorriso na cara
e ainda lhe faço o mimo
dessa rima barata

26 de mai. de 2011

alívio

quando acordei,
levantei e abri
os olhos pro sol da manhã,

como uma ave com
o peito ao vento.
livre, leve e sã.

quando fechei
os olhos e pude
usar de novo a imaginação,

eu me tornei alívio,
tamanha saudade
dessa sensação.

acordei tarde,
sono foi bom.
sonhos como sons
ritmados.
eu acordei renovado,

com um bom por quê.
estou bem mais leve
sem o peso que é você.

21 de mai. de 2011

todas as minhas cores

no caminho de volta
meu celular toca
Fernando, à cobrar

meia hora em casa
desperta buzina brava
Zé, pra combinar

aula sem graça e gosto
uma gelada no posto
pro stress ir embora

qualquer bar ou boteco
papo errado ou certo,
bons amigos não tem hora.

14 de mai. de 2011

breu

esperar quietinho
cada estrela aparecer.
sem sentir o frio
que o vento teima em trazer.

a noite que me rodeia
era, e é, minha companheira.
noite que chega calada,
bandida parceria passageira.

breu que as lágrimas esconde,
que eu enxugo, que caem,
que rolam e trazem,
o que está sempre tão distante.

falta de algo que faça falta.

8 de mai. de 2011

exposto

exposto
até o osso.
invariavelmente
desprotegido.

esse cupido,
meio demente,
irresponsável,
tonto, afobado

tem me deixado
intercalável,
bem, mal, mal, bem.
corro perigo,

o que há comigo
vai bem além
desse cupido vadio,
é coisa mais forte.

é muito azar, ou sorte,
que esse coração vazio
tenha encontrado
outro do mesmo tamanho.

de olhos castanhos,
um metro e sessenta e quatro
intrigantíssimos,
que sinceramente,

independem
de míseros
maus-tratos.
o que ela faz

meu rapaz,
eu te falo,
não precisa ser flechado
pra ficar apaixonado.

3 de mai. de 2011

mas não ela

todas sim,
ela não,
sem exigência,
só excessão.

qualquer uma,
menos ela.
sem frescura,
mas não ela.
não ela.

antes só
eu e eu
que meu
juízo sem sela.

ela não.
todas são,
alguma sim,
mas não ela.

30 de abr. de 2011

Guerras

Morreu Aquiles. O da mitologia com uma flechada no calcanhar. O da vida real com seis tiros, sob a noite e a chuva fria. O de Homero virou herói, virou filme. O do século XXI ganhou nem linha no jornal, virou só um número na estatística que impressiona. O da ficção venceu Tróia, vive nas histórias até hoje. O de carne e osso nem chegou aos dezoito anos, sem sossego, descanso só sobre o chão pesado. Viveu Aquiles. A guerra grega. A guerra brasileira.

Em memória de Aquiles Soares, assassinado na noite de 26/04/2011.

24 de abr. de 2011

facilidade

É tão mais fácil apoiar quem está bem. Até por que pra ajudar alguém que está por baixo, você tem que se abaixar também. É muito mais difícil - e digno- apoiar quem está mal. Mas, e daí? Quem está mal se afasta de todos, e todos se afastam de quem está mal. Um círculo. Quem vai querer compartilhar as tristezas de uma pessoa em depressão? Existem remédios, existem médicos. É muito fácil: não compreender, medicar e pegar de volta bonzinho. Fácil demais. Lidar com a angústia, a tristeza, as lembranças, as inconformações, isso sim é difícil, mas quem tem isso que se vire, que pague por ajuda, não é obrigação de ninguém gastar sua atenção e sua paciência com uma pessoa infeliz, "quando ele melhorar a gente toma uma cervejinha juntos".

21 de abr. de 2011

estradar

nessa estrada em que estou,
só paira poeira no rosto.
do asfalto, o som e o fogo.

dessa estrada que eu sou,
não se leva mais que poeira,
nada vai além da incerteza,

do ontem que é hoje,
que somos.

17 de abr. de 2011

quatro

tão tão tarde
são só horas
sem demora
tempestade

além vista
na cabeça
devaneia
indecisa

trovoada
vento forte
não há sorte
quando passa?

não passa não
infinita
me limita
o coração

12 de abr. de 2011

Metade

centésimo post :D
à quem representa tanto e, hoje, talvez ainda se lembre de mim.

magrinha
minha pe
quenininha

mole no calor
do meu braço
abraço

me furta
abusa
cheiro de uva

mão pele
boca leve
adere

magrinha
pedaço d'alma minha
quase nada

e tudo
enjoada
me iludo

me mata