13 de jun. de 2012

Longo Caminho


Ele esperava o trem. Sem sono, mas, cansado.  Pensava incessantemente – e talvez fosse esse o motivo da estafa. Não sabia se ia, se ficava. Aquela cidade lhe dera tantas decepções, mas, era uma cidade grande, ele ainda tinha chances de topar com um grande amor, com uma grande oportunidade de emprego, de vida. Quem sabe a sorte só não tinha o encontrado ainda. Podia ser questão de tempo. Mas com a passagem já em mãos, vinha sempre o “E Por Que Não?” à mente. Ah, o trem já vem. Coragem pra subir dessa vez.
                Entrou no trem e fez questão de se sentar virado de costas pra cidade que se afastava. Pra esquecer de vez as lembranças que aquele lugar trazia. Acomodou-se ao lado de um velho. Um desses velhinhos com cara de simpático, que foi logo puxando assunto. Falou sobre as malas do nosso rapaz, perguntou se era mudança. Ao receber a afirmativa, disparou alguns de seus conselhos. Sobre como o mundo tem mudado, sobre como as coisas estão difíceis, sobre como no tempo dele tudo era mais simples. É claro, velho, no seu tempo você não era velho. Os tempos sempre mudam, o que não muda é essa nostalgia. Por sorte, o velho falou só mais um pouco sobre o seu tempo, lembrou-se que sua estação estava chegando, começou a arrumar suas coisas e, com tudo preparado, ficou sua meia hora olhando petrificado pra estação que chegava. Com uma despedida muito formal, esperou até que o trem parasse, e desceu.
                Logo depois do velho descer, uma moça entrou no trem e ocupou seu lugar ao lado do nosso rapaz. Ele demorou a notar a presença dela. Foi olhando de canto de olho, pra evitar um contato direto de olhares, passando pela calça jeans desbotada, pela camisa branca folgada, pelo escapulário pendurado no pescoço, por onde caíam os fios negros dos cabelos tão lisos, contrastando com a pele tão clara, até que o olhar chegou aos olhos, que estavam fixos em alguma outra coisa - esse olhar de quem está viajando em pensamentos. Até que, numa fração de segundos, ela virou as pupilas e os olhares chegaram ao temido encontro. A timidez fez o coração dele acelerar, as mãos suaram. Ela sorriu. Nenhuma palavra. Ele virou o rosto, pensou em duas bilhões de coisas, quatro milhões de formas pra começar uma conversa, e zero coragem pra olhar de volta pra ela.
                E foi assim até chegar ao seu destino. Ele desceu, ela desceu. A moça ainda deu uma olhada na direção do rapaz, ele viu, mas já tinha se conformado com a derrota, nem tentou contato. A timidez veio junto com ele, a impaciência e a indecisão também, não ficaram presas na velha morada, na caixinha cheia de papéis e fotos. A força de vontade pra mudar a si mesmo não veio junto com a cidade.
A cidade era nova, os problemas não.