29 de jun. de 2010

outrem

N

z

Valor

Tempo e Vitória

viver não é disputa,
mas a vida é feita de luta,
há muito o que sofrer,
é o preço pra se viver.
mas tem que se lutar,
tudo é passageiro,
nada é perfeito,
sem o que duvidar.

tudo muda com o tempo,
cada um tem seu momento,
cada um faz sua história,
há que sentir, sorrir, chorar
viver pra alcançar,
pra sempre a Victória.

28 de jun. de 2010

influências V

Geraldo Azevedo não batizou seu último cd de "O Brasil existe em mim" à toa. Geraldinho é o Brasil.












Coqueiros

Por entre as palmas desse lugar
Por coqueiros de beira mar
Beira os olhos do meu amor
Buscando os meus
Vento a soprar
Quero as águas verdes
E quero enfim
Ser maior do que esse mar
Que avança sobre mim
Sobre a areia quero amar
Mas vou te dizer amor, mulher
Na paisagem do teu corpo
Vou deixar meu sorriso

Entre cirandas e cirandar
A cidade Recife, o sal
Do mar que derramei, chorei
Quando deixei tudo por lá
Entre pedras, ruas, só meu amor
Entre a gente que falava de mim
Que parti
É hoje aqui quis me lembrar
Vendo as praias tão sem cor, enfim
Sem as palmas dos coqueiros meu amor
Eu me lembro.

25 de jun. de 2010

ora ora, evolução

Se não for incômodo, contem as sílabas de cada estrofe.


cordas fortes

ela me cativou na primeira
vez que me apareceu sorrindo,
foi inevitável fascínio,
foi como uma flecha certeira.

bandoleia corações perdidos,
e eu posso dizer o que quiser,
ela já deixou claro que não quer
papo de casamento comigo.

quer deixar assim mesmo pra sempre,
e não quero pensar diferente,
afinal, não é uma aliança
que irá unir nossas andanças.

o que nos une é muito maior
que qualquer anel ou jóia rara,
o que nos une é como um nó
de cordas fortes que não desata.

23 de jun. de 2010

nada muito ou muito nada

Entre umas e outras, goles e linhas, Velhas virgens e Zezé di Camargo.


como é que é

acho que o relógio parou,
já passaram umas mil horas
e o sol não foi embora,
nem a noite começou.
qual é?!
o tempo tá de marcação comigo,
deve achar graça me deixar aqui aflito
esperando a hora passar.
não é possível!
é a inconfundível,
vontade de te encontrar.

encontro às oito e meia,
dessa longa sexta-feira,
no bar do nosso primeiro beijo
já imagino aquele vestido preto
e aquele cheiro que me instiga!
já sinto o frio na barriga,
e o desejo da tua boca,
ah! essa noite vai ser boa.

21 de jun. de 2010

é que

Fazer sentido nem sempre tem sentido.

num

rosas cinzas,
flores inodoras,
sol azul num céu dourado.

raios lilás
ultra-potencializados,
pra clarear a pele e o mar.

pelo fulgor e mais,
belo calor lilás,
alente-se.

incessantemente,
estar, somente,
além de si.

20 de jun. de 2010

conjunção

"If I were a swan, I'd be gone.
If I were a train, I'd be late. "


se é

se você sempre fugir
quando escurecer,
se quando te chamarem
não responder,

se quando achar graça
esquecer de sorrir,
se todo o tempo
só pensar em partir,

você só existirá.
se é, se há,
se esqueceu.
pior que morrer,
não viveu.

19 de jun. de 2010

melancolia

Alegria chega e vai embora. Tristeza chega e fica, te acompanha. Tristeza sim, é companheira. A alegria é canalha.


ruas

passam ruas,
é verdade,
nua e crua,
essa cidade.

já não me acolhe,
me esquece,
só me escolhe,
pra perder.
até você.

seguir aqui
me incomoda,
parece o fim
toda porta.

os becos fedem,
o asfalto sujo,
como os muros,
como tudo.

isso incomoda,
mas nada corta
tão profundo.

como meu caminho
sempre sozinho,
nesse mundo.

15 de jun. de 2010

influências IV

Arnaldo Antunes, músico, poeta, compositor e artista visual.
Arnaldo é o mais singular 80's.
Fantástico.


Poder

Pode ser loucura, pode ser razão
Pode ser Sim, Pode ser não
Pode ser Maria, Pode ser João
Pode ser Carro, Pode ser avião
Pode ser Saúde, Pode ser educação.
Pode ser Porta, Pode ser portão.
Pode ser Amor, Pode ser prisão.
Pode ser Drama, Pode ser pastelão
Pode ser Laranja, Pode ser limão
Pode ser Bíblia, Pode ser alcorão
Pode ser Inverno, Pode ser verão
Pode ser Pé, Pode ser mão
Pode ser Nevoeiro, Pode ser poluição
Pode ser Samba, Pode ser baião
Pode ser São Jorge, Pode ser dragão.
Pode ser Circo, Pode ser pão

Só não sei, porque eu e você não pode não.

Arnaldo Antunes

12 de jun. de 2010

bem, vindo, vem

o quanto é forte a esperança

uma história que eu sonhar,
pra nós dois,
pode se concretizar,
num depois,
bem vindo.

só nós e o que há de trazer
felicidade
e o que mais eu lembrar
de idealizar,
pra tornar-se
nossa realidade.

eu espero
e quero que você
venha comigo,
que o nosso depois seja bem vindo
e chegue logo
pra eu poder sorrir.

que o amanhã seja bem vindo,
eu vou esperar pedindo
que ele nunca chegue ao fim.

11 de jun. de 2010

música?

Juro que vou levar à sério a proposta abstratista.

Pra distrair, exercício pra imaginação musical.

blues do tédio

o tempo vai passando devagar,
parece até que vai parar,
até quase me tirar do sério,
por isso eu canto o blues do tédio.

de tanto ficar em casa
fiz poema, canção, repente, embolada,
só que tédio não combina com nada.

blues do tédio?
ah, não é sério.

Tudo bem, exige um esforço considerável. haha

9 de jun. de 2010

sem medo

vem fugir comigo,
me dê a mão,
feche a casa e abra seu coração.

vem viajar pra outro planeta,
qualquer lugar entre as estrelas,
pode vir perder seus medos,
vem sorrindo e sem receio.

como um pássaro
sem asas,
um voo mágico,
na sua casa,

casa sim!
que o mundo acolhe.
bom ou mal,
você escolhe.

7 de jun. de 2010

influências III

Admiro profundamente Augusto dos Anjos, quiçá seja ele minha maior influência. O pessimismo, a forma de escrever, a essência desse poeta me fascinam.
Simbolista, Parnasiano ou Pré-Modernista, Augusto recebe muitas definições, que só deixam claro o que eu afirmo, pra ele não há definição.
"Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéias!"

Mesmo falecendo com pouco mais que 30 anos, no longíquo ano de 1914, deixou um legado riquíssimo.

Bem, ele pode falar por si mesmo:

POEMA NEGRO

A Santos Neto

Para iludir minha desgraça, estudo.
Intimamente sei que não me iludo.
Para onde vou (o mundo inteiro o nota)
Nos meus olhares fúnebres, carrego
A indiferença estúpida de um cego
E o ar indolente de um chinês idiota!

A passagem dos séculos me assombra.
Para onde irá correndo minha sombra
Nesse cavalo de eletricidade?!
Caminho, e a mim pergunto, na vertigem:
- Quem sou? Para onde vou? Qual minha origem?
E parece-me um sonho a realidade.

Em vão com o grito do meu peito impreco!
Dos brados meus ouvindo apenas o eco,
Eu torço os braços numa angústia douda
E muita vez, á meia-noite, rio
Sinistramente, vendo o verme frio
Que há de comer a minha carne toda!

É a Morte - esta carnívora assanhada -
Serpente má de língua envenenada
Que tudo que acha no caminho, come...
- Faminta e atra mulher que, a 1 de Janeiro,
Sai para assassinar o mundo inteiro,
E o mundo inteiro não lhe mata a fome!

Nesta sombria análise das cousas,
Corro. Arranco os cadáveres das lousas
E as suas partes podres examino...
Mas de repente, ouvindo um grande estrondo,
Na podridão daquele embrulho hediondo
Reconheço assombrado o meu Destino!

Surpreendo-me, sozinho, numa cova.
Então meu desvario se renova...
Como que, abrindo todos os jazigos,
A Morte, em trajes pretos e amarelos.
Levanta contra mim grandes cutelos
E as baionetas dos dragões antigos!

E quando vi que aquilo vinha vindo
Eu fui caindo como um sol caindo
De declínio em declínio; e de declínio
Em declínio, com a gula de uma fera,
Quis ver o que era, e quando vi o que era,
Vi que era pó, vi que era esterquilinio!

Chegou a tua vez, oh! Natureza!
Eu desafio agora essa grandeza,
Perante a qual meus olhos se extasiam
Eu desafio, desta cova escura,
No histerismo danado da tortura
Todos os monstros que os teus peitos criam.

Tu não és minha mãe, velha nefasta!
Com o teu chicote frio de madrasta
Tu me açoitaste vinte e duas vezes,
Por tua causa apodreci nas cruzes,
Em que pregas os filhos que produzes
Durante os desgraçados nove meses!

Semeadora terrível de defuntos,
Contra a agressão dos teus contrastes juntos
A besta, que em mim dorme, acorda em berros
Acorda, e após gritar a última injúria,
Chocalha os dentes com medonha fúria
Como se fosse o atrito de dois ferros!

Pois bem! Chegou minha hora de vingança.
Tu mataste o meu tempo de criança
E de segunda-feira até domingo,
Amarrado no horror de tua rede,
Deste-me fogo quando eu tinha sede...
Deixa-te estar, canalha, que eu me vingo!

Súbito outra visão negra me espanta!
Estou em Roma. É Sexta-feira Santa.
A treva invade o obscuro orbe terrestre
No Vaticano, em grupos prosternados,
Com as longas fardas rubras, os soldados
Guardam o corpo do Divino Mestre.

Como as estalactites da caverna,
Cai no silêncio da Cidade Eterna
A água da chuva em largos fios grossos...
De Jesus Cristo resta unicamente
Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente
Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!

Não há ninguém na estrada da Ripetta.
Dentro da Igreja de São Pedro, quieta,
As luzes funerais arquejam fracas...
O vento entoa cânticos de morte.
Roma estremece! Além, num rumor forte
Recomeça o barulho das matracas.

A desagregação da minha Idéia
Aumenta. Como as chagas da morféia
O medo, o desalento e o desconforto
Paralisam-me os círculos motores.
Na Eternidade, os ventos gemedores
Estão dizendo que Jesus é morto!

Não! Jesus não morreu! Vive na serra
Da Borborema, no ar de minha terra,
Na molécula e no átomo... Resume
A espiritualidade da matéria
E ele é que embala o corpo da miséria
E faz da cloaca uma urna de perfume.

Na agonia de tantos pesadelos
Uma dor bruta puxa-me os cabelos.
Desperto. E tão vazia a minha vida!
No pensamento desconexo e falho
Trago as cartas confusas de um baralho
E um pedaço de cera derretida!

Dorme a casa. O céu dorme. A árvore dorme
Eu, somente eu, com a minha dor enorme
Os olhos ensangüento na vigília!
E observo, enquanto o horror me corta a fala
O aspecto sepulcral da austera sala
E a impassibilidade da mobília.

Meu coração, como um cristal, se quebre
O termômetro negue minha febre,
Torne-se gelo o sangue que me abrasa
E eu me converta na cegonha triste
Que das ruínas duma casa assiste
Ao desmoronamento de outra casa!

Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos.

6 de jun. de 2010

dubiamente

resgatar
a velha vontade louca de gritar.
de colocar pra fora
o que me devora,
o que me faz chorar
e fugir,
sumir daqui.
ir embora,
e ir agora,
pra longe de tudo,
pra um canto qualquer
desse mundo.

até que eu resgate,
sem força ou embate,
o que ficou pra trás.

recuperar meu futuro,
e a voz do que ficou mudo,
ter de volta minha paz.

2 de jun. de 2010

influências II

Sobre Chico não dá pra falar muito, acho injusto.


Sob Medida

Se você crê em Deus
Erga as mãos para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
Sou igual a você
Eu nasci pra você
Eu não presto
Eu não presto

Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua
Costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus.

Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agraceça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece
.

Chico Buarque