28 de jul. de 2010

muito

aparentemente

ah, parece até que tudo se perdeu,
a estranha vida que se foi
e a gente não viveu.
parece diferente de tudo que passou,
aparentemente, quase tudo mudou.

o clima, as estações,
a tv e os corações,
sempre vão mudar,
sempre passarão.
só não muda a certeza
de que todas as coisas
sempre mudarão.

25 de jul. de 2010

falar sobre o que se sabe

Recomece, coração

um novo dia amanhece,
ainda é difícil respirar
recomece, coração, recomece,
você não pode parar.

o golpe foi profundo.
a dor continua junto.
vai demorar pra ir embora.

só nos restou a tristeza.
e não vai ser moleza,
recomeçar do agora.

ela levou nossa paz,
já não nos quer mais,
mas nós continuaremos
independentemente
do que vier pela frente
juntos, estaremos
como fé e prece.
alado coração, recomece.

22 de jul. de 2010

pra variar

Fiquei muito satisfeito com o resultado dessa. Espero que gostem.


Fuga aos Céus


Disparada

entrou às cinco e trinta e três,
disparada às dez pras seis.
os dois milhões no porta-malas
eram menos que a saudade casa.
no retrovisor ainda via o banco,
esse assalto vai lhe render tanto,
mas não trará de volta a família distante,
pra parar de pensar nisso apertou forte o volante,
pois era preciso acertar na fuga.
aproveitar um roubo assim seria uma luta.
mas quem sabe,
se escapasse,
havia esperança
de voltar ao velho lar e rever as crianças.
elas deviam ter crescido,
como queria ter visto
isso acontecer.
mas estava fadado
a sempre escolher
o caminho errado,
destino traçado.
pobre diabo...

Perseguição

a estrada se estendia convidativa,
mas as retas tediosas
e as curvas cansativas
fizeram-no estafar
precisava chegar logo a algum lugar
mas longa ainda seria a perseguição
agora seu destino lhe fugia às mãos
e era fácil adivinhar
ele muito bem sabia
que alguma armadilha
estava a lhe esperar
cidade após cidade
correu pela vida
e por sua dignidade
a tanto perdida.

as lágrimas saltavam,
aumentava o som,
não era mais um homem bom,
roubara, matara,
como se redimir?
sabia muito bem,
que fora muito além,
não podia mais sumir.
mas ainda lhe sobrava
no coração, sua casa
um porto seguro, seu lar.
decidiu-se em retornar.

Redenção

de novo em casa.
tanto tempo, tanta estrada
chegou enfim,
pra rever aqueles rostos,
já não tão infantis.
e um outro ainda igual.
sabia que estava perto o final,
mas a redenção viria
no que ele faria
naquele momento
dois milhões na bolsa,
e o rosto desatento
ficou surpreso
alegria ou medo,
não dava pra distinguir
deixou pra eles o dinheiro,
e outra vez, sem rodeios,
pôs-se a fugir.

mas já o esperavam,
facilmente o acharam.
só um tiro na cabeça.
revistem o carro,
caso fechado,
o banco que agradeça.

na cabeça, uma bala e um pecado.
na bolsa, o dinheiro e um recado.
"pelos anos que estive ausente,
por ter me afastado tão de repente,
e não ter ligado nenhuma vez.
eis meu pedido de desculpas,
eu ganhei essa luta,
fui feliz, por vocês."

19 de jul. de 2010

amizade

Para Gabriela Pinto de Moura. De verdade.


Ouvidos

se sentassemos, nós,
apenas, à sós,
em algures que for,
minha flor,
não saberia prever
o que iria dizer.

sei, sim, que diria,
uma verdade ou uma mentira,
coisa qualquer,
contigo estou à vontade,
pra falar sobre saudade
ou o que der pé.

sobre dor, sobre amor,
sobre ti, sobre mim,
sobre tudo que tivermos
vontade de falar,
estarei pronto pra lhe escutar
pois sei que sempre
me escutarás,
em fúria ou paz,
um alento,
nossa amizade
ainda tornar-se-á
casamento.
pode escrever,
minha amiga,
amo você.

16 de jul. de 2010

vento forte

Leva, vai. Acordei pessimista.


só arde


estou acabando,

chegando ao fim.
tão perto do começo,
perto demais.

sou humano.
parte de mim
ainda nem conheço,
mas tanto faz.

ja é tarde.
meu caminho foi só,
foi, sempre,
sempre será

e como arde
essa dor maior
de derrepente
tudo acabar.

13 de jul. de 2010

influências VI

"Meu treponema não é Pallidum nem viscoso.
Os meus gametas se agrupam no meu som"

Jardim das Acácias II

Nada vejo por essa cidade
Que não passe de um lugar comum
Mas o solo é de fertilidade
No jardim dos animais em jejum
Esperando alvorecer de novo
Esperando anoitecer pra ver
A clareza da oitava estrela
Esperando a madrugada vir
E eu não posso com a mão retê-la
E eu não passo de um rapaz comum
Como e corro, trafego na rua
Fui graveto no bico do anum
Vez em quanto sou dragão da lua
Momentâneo alienígena
A formiga em viva carne crua
Perecendo e naufragando no mar!
E a papoula da terra do fogo
Sanguessuga sedenta de calor
Desemboco o canto nesse jogo
Como a cobra se contorce de dor
Renegando a honra da família
Venerando todo ser criador
No avesso de um espelho claro
No chicote da barriga do boi
No mugido de uma vaca mansa
Foragido como Judas em paz
A pessoa que você mais ama
No planeta vendo o mundo girar

Zé Ramalho

11 de jul. de 2010

força

Mais ou menos assim.


O Matemático

desde pequeno vivia contando
números, lados
pensamento sempre racionalizado.
resolvia tudo
matematicamente
não precisava de nada diferente.
ou melhor,
pensava não precisar.
um par de olhos castanhos
fez sua opinião mudar.
o matemátcio estava apaixonado.
acabou-se a racionalidade.
não há coeficiente adequado
à paixão, à capacidade
de tornar-se um completo
babão de comportamento estranho,
caído aos pés da dona
de um par de olhos castanhos.

8 de jul. de 2010

um asteróide pequeno

O sol observava seus inquilinos. Uns em especial, os terceiros, aqueles que eram de longe seus inquilinos mais problemáticos. De tempos em tempos resolviam visitar os vizinhos. Visitas nada amigáveis. Espalhavam sujeira pela vizinhança. E o pior de tudo, acabavam com sua própria residência.

O sol observava, e ficava ainda mais insatisfeito vendo o descaso dos inquilinos com a situação. Tinha que fazer alguma coisa, acabar com a bagunça sob sua órbita. Cortar a energia? boa idéia.

6 de jul. de 2010

duas estrofes

Paz

se me perguntassem
não saberia a resposta
pra essas noites em claro
pra esse olhar vago
não sei

perdi a direção
mas procuro,
ainda que em vão
redenção

2 de jul. de 2010

veja bem

A Pessoa Certa

quando encontras a pessoa certa,
quando a pessoa acerta
o alvo pulsante em seu peito
com um olharzinho matreiro
digno de risada.
olharzinho canalha.
fatal.
letal.
no final
ninguém pensa.
será doença?
não, é como droga.
quem prova, gosta.
fazer o quê,
até aparecer
a pessoa certa
a gente testa,
uma hora acerta.
sem preocupação
com gente errada,
mais vale a estrada
que a direção.