Vinte comprimidos na mão esquerda, um copo d’água na mão
direita - Se fosse vodca, essa história não seria contada em primeira pessoa.
Foi com toda a coragem do mundo. Tomei em dois goles, com o
gosto salgado das lágrimas que encharcavam minha cara passando pelos meus
lábios.
Deitei com a carta de despedida na mão, pra esperar a morte
vir me buscar. Mas ela me levou só por vinte e quatro horas.
Me devolveu inteiro, na tarde de uma terça feira, com vida,
desapontamento, e uma nova chance.
Suicidas são muito fortes.
Não é fácil puxar um gatilho ou engolir uma porrada de comprimidos, ligar o foda-se e ir embora dessa merda de
mundo.
Meu suicídio foi frustrado. Não sei o que foi capaz de
evitar que tamanha carga de clonazepam não explodisse meu coração.
Não me
arrependo.
Não faria de novo.
Suicidas são muito fracos.
Ir embora só fere quem realmente
se importa com você. Os seus problemas morrem contigo, mas, uma vida com
problemas ainda é uma vida. Feito uma puta gostosa, gostosa, mas cara, com
tempo limitado e que só dá com camisinha.
Não vale a pena morrer.