28 de jan. de 2012

incógnita


pelo som irritante da tua voz,
pelo tom claro demais da tua pele,
pelos pêlos do teu corpo tão leve,
pelo teu receio em falar de nós.

ansioso assim, sempre
ou, talvez, somente
enquanto eu não te esqueça.

enquanto puder,
vivo então, até
que eu, finalmente, te conheça.

5 de jan. de 2012

Coragem



           Vinte comprimidos na mão esquerda, um copo d’água na mão direita - Se fosse vodca, essa história não seria contada em primeira pessoa.
           Foi com toda a coragem do mundo. Tomei em dois goles, com o gosto salgado das lágrimas que encharcavam minha cara passando pelos meus lábios.
           Deitei com a carta de despedida na mão, pra esperar a morte vir me buscar. Mas ela me levou só por vinte e quatro horas.
           Me devolveu inteiro, na tarde de uma terça feira, com vida, desapontamento, e uma nova chance.
           Suicidas são muito fortes. 
           Não é fácil puxar um gatilho ou engolir uma porrada de comprimidos, ligar o foda-se e ir embora dessa merda de mundo.
           Meu suicídio foi frustrado. Não sei o que foi capaz de evitar que tamanha carga de clonazepam não explodisse meu coração. 
           Não me arrependo. 
           Não faria de novo.
           Suicidas são muito fracos. 
           Ir embora só fere quem realmente se importa com você. Os seus problemas morrem contigo, mas, uma vida com problemas ainda é uma vida. Feito uma puta gostosa, gostosa, mas cara, com tempo limitado e que só dá com camisinha.
         
           Não vale a pena morrer.

Zero nº1

                      créditos à inspiração da letra e 
da melodia do Audioslave: #1 Zero
Vou me manter aqui
Como um cão aos seus pés
Ainda que sob pontapés

Não vou sair daqui
Serei o seu capacho
Seu servo, escravo

Preparado pra tudo
Ampararei você
Como todo prazer

Manter-me-ei mudo
No meu rosto teso
Em meu gosto feio


Constantemente pisado
Sem motivo algum
Sou seu Zero nº1


E sempre estarei aqui embaixo 
Com teu vulto roto
No canto do meu olho

o peso



eu vou te atormentar
nas memórias, nas fotos
nas histórias, nos corpos
feito um fantasma
uma alma penada
puxando seu pé antes de dormir
vou viver aqui
soprando no seu ouvido
o tamanho do desperdício
esse fardo feio e pesado


o tempo está do meu lado

Ímpar


clara como esse sol
abrasadora
íris tão verde
e vai
e volta

não me cansa
ela dança
ela transa com meu olhar
sem outra
inteira e toda
sem par

Tal


Uma tal, qualquer
Dessas que merecem tais versos
Bem, mulher
Bem de perto
Queria eu
Estar agora
Não ter hora
Não ser certo
E incrédulo
Totalmente sem fé no amor
Que uns bons versos românticos
Essa tal merecia.
Merecia sim, senhor.