28 de set. de 2011

(im)paciência

sete horas.
os carros passam lá fora.
sirenes, buzinas.
o vento teima em bater na janela.
você teima em permanecer na minha cabeça.
sete horas.
o celular não toca.
meu coração não decide em que ritmo pulsa.
fraco, forte, fraco, fortíssimo.
o chão frio me convida.
aquele disco acústico do Lobão também.
sete horas.
os pensamentos ruins voltam.
a geladeira vazia.
meu cérebro em overdrive.
tontura, euforia, melancolia,
lá, mi, ré, lá, sol,
alguém deveria acender a luz desse quarto.
alguém poderia entrar nesse quarto.
eu tenho que parar com isso.
mas pensando bem.
sete e um.

26 de set. de 2011

odiável sinceridade

você sabe, eu minto muito mal
meus poemas sinceros são bem sem sal
e o meu lado romântico é vaidoso demais

bem, você deve saber também
que contigo é difícil ter paz
mas, longe de ti é ainda mais

difícil, difícil

feito fingir que não sinto sua falta
e manter essa pose calma
sem transparecer o desespero que ferve em cada poro do meu corpo, gritando, esperneando, reclamando cada segundo da tua ausência.

eu falo tanto..."eu sou inabalável"
só não digo adeus
mas isso soa até engraçado
bem, eu sei que você sabe que os meus versos sempre serão seus.

25 de set. de 2011

bossa

nunca mais dormi
quiçá sonhar
nunca mais tive calma
nem lugar
nem se
nem será
nem eu
sem ar

23 de set. de 2011

Solução


            Era uma tarde bem quente, tomando uma cerveja com os amigos, quando Antonio Carlos foi acometido de uma imensa vontade súbita de encontrar um amor. Papel e caneta na mão, anotava seus requisitos. Um amor bonito, duradouro, intenso, compreensivo, sincero, companheiro, agradável, quente e uma porção de outras expectativas que se coloca acerca de um amor.
            Foi Antonio à loja de amores. Procurou, procurou, mas não achou nada na primeira, nem na segunda e nem na terceira loja. Aí veio aquela idéia, como num estalo.
            Carlos olhou sua lista, com tantas exigências, pegou seu amor próprio e tornou-o tudo aquilo listado. Abriu sua própria loja de amores, expôs seu próprio amor. O resultado foi o sucesso. Total. Teve até reportagem pro Pequenas Empresas Grandes Negócios. Fala-se que Antonio Carlos já tem ofertas para exportação de seu amor.

20 de set. de 2011

bom, ruim

Num gesto de pura ousadia, essa poesia já vem acompanhada de sua versão musical, disponível aqui: http://soundcloud.com/leoooni/bom-ruim-um-n-o-assim-ou-so


bom, ruim, um não assim (ou So, you know, isn't nothing)

é que não há boca que se encaixe
tão bem na minha boca
nem suspiro que soe tão bem
quanto o dela soa

nem braços tão finos
nem pés, nem umbigo,
pernas, mamilos
tão convidativos

tão sempre
tão nunca
só mais uma
mais duas
me iluda, nua
que és só minha
que és, e és
cínica
mas minha, mais
única

bom, ruim,
um não assim
além, a mim,
o fim, enfim

17 de set. de 2011

Queijo e goiabada


Dizer que os opostos se atraem é uma redundância. Só os pólos contrários de um imã se encostam, a mão esquerda só se encaixa com a direita, as peças de um quebra-cabeça e os seres humanos também. Tomando como grande exemplo as mãos, se vê já muita coisa: Cinco dedos, unhas, pele, aparentemente iguais, mas totalmente opostas.
Busca a alma algo de sua imagem e semelhança, ou algo que a complete? Ou não seriam as duas coisas?

12 de set. de 2011

cabe aqui

pode entrar
sinta-se em casa
faz de mim sua morada
me abusa feito uma criada

cata meus cacos
cola os meus pedaços
abranda alguns estragos
relevamos nossos pecados

e aqueçamo-nos até a chama ter fim
SIM

10 de set. de 2011

palpitação

vem cá e substitui a falta que me faz alguém
um alguém qualquer
até você pode ser
se quiser

corra logo, chegue rapidinho
acaba com a palpitação
de um coração
balão

tem exigência não
é só chegar
mostrar
é só

suor

7 de set. de 2011

me belisca

aqui estamos, pequena,
mergulhados nessa cena
e em nós mesmos e
nas suas pernas
entrelaçadas às minhas e
nessa poesia e
no seu corpo quente e
no seu riso fácil e
envolvente
que me deixou admirado
e, deveras, dependente.

5 de set. de 2011

ebulição


sobre nossas costas o mesmo sol
no nosso sangue a mesma força
mesma vontade de sumir daqui
entrecortando a obrigação
curva que nos mantém imóveis.