30 de out. de 2011

Veneno


Como se você
Tivesse o poder
De roubar meu ar

Sua simples presença
Faz minha cabeça
Sair do lugar

Seu doce veneno
Consome-me por dentro
Sinto-me ruir

Caindo de tão frágil
Eu, alvo fácil
Indo ágil pro fim

26 de out. de 2011

Quem Sabe


Você desce as escadas
E as portas já não estão fechadas
Seus passos te levam pra rua
Pro mesmo caminho
De manhã cedinho
Ou final de tarde
Você vai encontrá-lo
E não fará alarde
Quiçá cumprimentá-lo
Já fazia tempo, não?
Ele sempre vem junto dessa sensação

Os sonhos ridículos da sua época dele
Hoje já não parecem não valer nada
Ele costumava ser um canalha
Mas, o melhor que você já teve

a milésima lamentação nostálgica


Parece que às vezes o peito seca.
A cada batida, o coração parece se debater lá dentro,
brigando com os outros órgãos, machucando.
Parece não haver sangue,
nem nada que acalme essa sensação,
nada pra diminuir o atrito de cada batida.

Um coração masoquista era só o que faltava.

Duas opções pra você, coração:
ou você se acalma, ou eu te paro de uma vez por todas.

vidro embaçado

ainda te esqueço
mesmo carregando
no peito
e no vidro do meu carro
seu nome gravado

ainda paro de lembrar
daquelas madrugadas
das boas risadas
até o fim raiar

ainda chego lá
e te olho com desprezo
e te mando um torpedo
capaz de te afundar

mas te trago de volta
fica tranquila
vontade de vida
ainda me sobra

a decisão certa


virei as costas
fui embora
não senti suas mãos
nem sua voz
me pedindo pra ficar
nenhuma ligação
sua, dizendo só
pra eu voltar
nada
nem um pedidozinho
nada
caminhar sozinho
que nada

doeu, mas curou
se não me procurou
não sentiu minha falta
se não te dói a alma
eu tava mais que certo
quando saí de perto

eu, trinta latas de cerveja e a ausência

foi-se o doce
como se nunca tivesse chegado
como quem nada tem ao lado

foi-se doce
sem espírito pesado
só rindo-se, pecado

foi-se

restam-me as coisas
fios de cabelo no paletó
as camisas sujas de suor

restam-me coisas
o que tenho ou penso ter
tenho coisas. não tenho você

resta me

25 de out. de 2011

musa

pra você faço samba
a música e a letra
em plena terça-feira
você me encanta

não me estranha
te pago uma cerveja
e te pego na mesa
comigo você dança

me dança, me transa
me traga, me beija
te quero inteira
morena, me ama

21 de out. de 2011

Não serve


Aquele consolo de “ah! Não fica assim, isso passa” não serve. Saber que tudo vai passar é que realmente dói. A vontade é de manter todas as feridas abertas, à vista, bem visíveis, pra poder sempre jogar na cara de quem as fez. Sempre despertar automaticamente o remorso, o peso na consciência. Ouvir um “poxa, desculpa” a cada encontro, e sair mais leve. Elevado.
Mas, isso passa.

17 de out. de 2011

fevereiridades

é pau
é perna
é (quase) tudo carinho

é língua, saliva
lábios se abrindo

é alma entregue
é boca em suspiro

é putaria sútil
ao pé do ouvido

é peito, é suor
é pele, é espírito

são detalhes pequenos,
e como são

detalhes que formam
todo esse tesão

12 de out. de 2011

aspas



Deságua


Nos primeiros raios da manhã
Eu caminho beira-rio
Na esperança que o espelho d'água
Traga ocê de volta
Por aqui tudo sente sua falta

Dia desses eu te vi na curva do rio
Te ouvi na sinfonia
Que escancara as portas do dia
Brincou no céu, voou
No bater de asas fogo-pagô

É um bater de asas essa vida
É um sopro
É caminho de ida
Um rio que segue sempre adiante
Eu sigo seu cheiro pelos campos
Feito gado seguindo o berrante

Não tem jeito
De tudo eu tenho feito
A saudade é um arco-íris
Que brota nos seus olhos
E deságua no meu peito

Zé Geraldo (vale a pena ouvir)

2 de out. de 2011

mal e cura

uma quantidade significativa de cigarros
nessa hora que quase pára
nesse ciclo de pensamentos que me consome

é assim mesmo
uma porrada de poesias depois
a gente (acha que) aprende

esse vírus-bactéria-problemagenético
que destrói meu estômago ânimo
vistas humor sono
vem de longe bem longe

o que tá mais que na cara
é que eu preciso me curar de você