1 de out. de 2014

O Príncipe Encantado

Ele era um príncipe encantado. Bonito, forte, paciente, rico, justo. Andava num cavalo branco e nunca suava. Como todo príncipe encantado, ele casou-se com uma princesa com equiparáveis qualidades, que se guardou a vida inteira pra ele, o primeiro e único. E, depois de casados, deveriam ser felizes para sempre. Deveriam. Por que, como toda estória que se preze, havia uma vilã.
A vilã não era a moça provocadora, descabelada, de riso fácil e escandaloso, que era prima da princesa. Essa prima, que não se preocupava nada em se guardar pra um príncipe, nem com a própria maquiagem, passava longe de ser a vilã. A prima, que vivia de caso com rapazes enquanto a princesa tinha aulas de etiqueta, não tinha nada de vilã.
A vilã da estória era muito mais próxima da princesa do que sua prima safada. A vilã só aparecia quando o príncipe conversava com outra mulher na frente da princesa. E quando a princesa pedia pra ele ir ainda mais devagar. E quando ela pedia pra ele não sair com os amigos por que não gostava deles. E quando ela pedia pra ele gozar logo por que estava com sono. E quando ela pedia explicações do por quê dele ficar escutando seu disco preferido ao invés de prestar atenção nela reclamando da mãe.
A moça de riso fácil só era tentadora por que a princesa temia não trepar bem o suficiente pro príncipe. Morria de medo de perdê-lo caso ele conhecesse alguém mais interessante. O príncipe comeu a prima por que ela não se incomodava se ele estivesse meio fora de forma. Por que ela dava rindo, pedindo pra ele comer com mais força. E por que ela sabia ficar quieta quando ele só queria ficar quieto.
A vilã da estória é a insegurança.

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